segunda-feira, 19 de maio de 2008

Tempo?

Quando não se consegue terminar nada do que começa, acaba-se por desacreditar que vale a pena começar algo. Não ter aptidão pra nada; não poder dizer que é bom nisto ou naquilo. Isso realmente desanima qualquer espírito que tem consciência de sua mediocridade. Será mesmo preciso querer ter algo? Querer alcançar objetivos e dizer: eu sou isso, eu sou aquilo?
Começo a desconfiar da importância dos títulos. Soam como confirmação de toda limitação. Mas há pessoas que esperam de nós a comprovação de nossa inteligência. Talvez os títulos apenas corroboram a idéia de que a fragmentação do conhecimento, sugerida por Descartes em seu discurso do método, é relmente necessária, numa época onde, ainda por roupas, se diferenciam classes.
Àqueles que usam do conhecimento para fins de ganhos supérfluos, só resta a honra de serem a representação de uma sociedade imbecilizada. Será que os primeiros filósofos, tidos como naturais, eram melhores que o homem moderno, ou apenas despreocupados com tais futilidades?
Nos puseram pra correr; engarrafaram o tempo; mas esqueceram que o conhecimento anda a passos curtos, observando cada detalhe, analisando cada objeto. Ele, por mais eficaz que seja, não consegue alcançar o "mundo fast food". O sentimento de limitação, no mundo atual, é desgraçadamente natural. Somos filhos da produção em série. Cada um em seu lugar, sem invadir o espaço alheio.
Em um mundo de sete bilhões de habitantes, não se é nada senão número. Parte da engrenagem econômica, incansável, ininferrujável. É triste dizer isso, mas querer o máximo de conhecimento possível hoje, é impossível. Somos animais de fácil adestração; é necessário no mínimo dois séculos pra que aprendamos a agir de modo diferente.
Me cansei de querer escrever bonito; de querer saber todas as matemáticas; discutir todas as disciplinas; percebi que meu tempo não me dá tais privilégios.Viverei pra sempre com essa vontade não ter vivido. Pelo menos uma coisa conseguirei terminar: essa merda de vida mal vivida. Se me perguntam porque pensamentos tão pessimistas, respondo que são os mais sensatos a se pensar. Felizes aqueles que os ignoram.
Há algo bom em se pensar assim: perde-se rapidamente aquela demasiada alegria de viver; de se ser notado; de falar alto pra que todos ouçam. Saber que não se conhece nada, é um anestésico para a felicidade descontralada. Dói, mas é confortante pensar assim; traz pra si a discrição.
Chega de tanto falar nada pra tantos surdos pomposos.

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